sábado, 27 de outubro de 2007

O RESPEITO PELOS MÉDICOS E PELA SUA DIGNIDADE (II)

In Tempo Medicina Online - 1º Caderno - 24/10/2007
O respeito pelos médicos e pela sua dignidade (II) Artigo do Dr. Nuno Morujão*
Tomar consciência do «eu real» pode revelar-se muito mais difícil do que parece.
É como olhar para um espelho embaciado: é difícil ver uma imagem nítida.
Há muitas coisas que impedem a visão do «eu real».
A mente humana preserva-nos das informações que possam minar a autoconfiança.
É o que se designa por mecanismo de defesa do ego.
Neste processo é eliminada muita informação essencial. O inconsciente cria muitas ilusões, às quais já alguém chamou «mentiras vitais». Estas são armadilhas poderosas que impedem uma correcta auto-avaliação. E daqui podem resultar dificuldades na autogestão, nomeadamente no autodomínio, transparência e capacidade de realização.
Vem isto a propósito do dr. Miguel Leão (ML) e da sua resposta ao meu artigo de opinião publicado no «TM» em 1/10/2007, reveladora de que ainda não ultrapassou essa fase essencial para o desenvolvimento efectivo das competências de liderança.
Mas candidata-se a bastonário da Ordem dos Médicos (OM)…
Acredito que constituirá uma ajuda relembrar alguns factos recentes que permitirão ao próprio e aos outros médicos uma reflexão sobre o seu perfil.
Convocatória para uma ARN
Enquanto presidente da Assembleia Regional do Norte (ARN), ML fez publicar nos jornais diários de 30/12/2006 uma convocatória para uma ARN. Um ponto da ordem de trabalhos (OT) era a «apreciação e deliberação sobre a actividade a exercer pelo Conselho Regional do Norte da OM (CRNOM)» face à «conduta» de um médico impedir a realização de uma reunião do CRNOM na instituição em cujo conselho de administração (CA) se integra, com médicos da mesma.
Esse médico comunicara ao CRNOM a decisão do CA de que uma reunião solicitada em 22/12/06, para 28/12, não seria possível realizar-se nas instalações da instituição. No mesmo dia 22, tinha sido pedida pelo bastonário, para tratar do mesmo assunto e para o dia 29/12, uma reunião no mesmo local, que foi autorizada.
Nela, além do bastonário, esteve representado o CRNOM.
A «conduta» do médico que estava em causa era a decisão do CA da instituição, comunicada ao CRNOM.
Sendo o CRNOM um órgão executivo capaz de avaliar e decidir sobre algum comportamento que transgrida os estatutos e regulamentos da OM, deve remeter o relato dessa eventual ocorrência para o Conselho Disciplinar, caso o entenda justificado.
E a este compete desencadear o respectivo processo disciplinar, se houver motivo para tal.
Em suma: ML demonstrou evidente desrespeito pelo CRNOM, passando-lhe um atestado de incompetência.
Conferência de Imprensa
Alguns dias depois, ML convoca uma conferência de Imprensa para anunciar que iria propor na ARN a condenação pública desse médico. Nessa conferência, produziu uma acusação, procedeu a um julgamento sumário e fez uma condenação.
As suas intervenções foram profusamente divulgadas pelos órgãos da Comunicação Social.
ML também fez seguir por correio, para os médicos da SRNOM, uma convocatória para a mesma ARN.
Nessa convocatória, lembrava um conjunto de intervenções de sua iniciativa que nada tinham a ver com a OT da ARN, a que dava destaque pela alegada importância de que se revestiam para os médicos, nomeadamente «o ter refutado afirmações do bastonário da OM» que caracterizava de destituídas de fundamento e «ter criticado uma proposta do presidente do Conselho Regional do Centro», para citar só dois exemplos.
De seguida passava a registar as suas acusações ao citado médico, bem como os seus juízos de valor sobre o comportamento do mesmo, já formuladas na conferência de Imprensa.
Em suma: ML manifestou evidente desrespeito por um colega e pelos mais elementares princípios do direito e dos estatutos e regulamentos da OM, aparentemente pretendendo influenciar os médicos que estivessem presentes nessa ARNOM, quanto à deliberação a tomar.
Desarticulação
Nos termos regulamentares, a ARNOM só podia contar com a presença de médicos, devendo ser confirmado que estavam no pleno uso dos seus direitos, e tinha de ser feito o respectivo registo de presenças. Também não podia ser feita qualquer alteração à OT da convocatória. Nada do referido foi respeitado…
Na ARNOM, após apresentação da proposta condenatória por ML, o médico «acusado» pôde finalmente informar os colegas sobre a verdade dos factos. Verificaram-se diversas intervenções contraditórias de dirigentes do CRNOM, reveladoras de completa desarticulação entre eles e também entre o CRNOM, o presidente da ARNOM e o bastonário da OM. Incrédulos, foram muitos os presentes que se pronunciaram, manifestando repúdio por tudo o que estava a acontecer.
A ARNOM culminou com a retirada da proposta condenatória por parte de ML!... Pelas razões já referidas, não será possível validar a acta daquela ARNOM. Foi uma «assembleia virtual»…
Em suma: a conduta de ML na convocatória, preparação (nomeadamente mediática) e condução da ARNOM, com destaque para a subtracção da sua proposta condenatória ao sufrágio dos presentes, quando se tornou evidente que iria ser repudiada pela esmagadora maioria, demonstram um carácter cuja classificação deixo ao critério do leitor…
«Eu real» e «eu ideal»
A pergunta que se coloca é inevitável: -- O perfil de desempenho de ML, o seu «eu real», revela alguma credibilidade para presidente do Conselho Nacional Executivo da OM, ou seja, para as funções de bastonário da OM?
Aqui está bem ilustrado o respeito de ML pelos médicos e pela sua dignidade.
Aqui se vê a distância entre o «eu real» e o «eu ideal» para que ML possa dar corpo ao lema da sua campanha: «Uma Ordem para unir e defender os médicos.»
*Médico
Subtítulos e destaque da responsabilidade da Redacção TM ONLINE

domingo, 21 de outubro de 2007

PEDRO NUNES PÕE MIGUEL LEÃO EM "CHEQUE"...

In Tempo Medicina - 1º Caderno de 22-10-2007
Pedro Nunes reage a artigo de Miguel Leão
Artigo do Dr. Pedro Nunes*
Foi com espanto que vi publicada no «Tempo Medicina» uma pretensa carta de resposta do dr. Miguel Leão ao dr. Nuno Morujão, em que o candidato a bastonário aproveita para, de forma manifestamente desonesta, me associar ao dr. Nuno Morujão, identificando-o como meu conselheiro.
Utiliza para isso o argumento de o dr. Morujão me ter apoiado e participado num núcleo de reflexão nas eleições de 2004.
Procura, da forma desleal que infelizmente se tornou procedimento habitual, associar-me à questão do relógio de ponto por impressão digital e o honroso apoio do dr. Albino Aroso num qualquer conluio com os tempos da ministra Leonor Beleza.
Sabe o dr. Miguel Leão que, apesar de não ser cultor dos seus métodos, não tenho qualquer problema em responder-lhe nos termos exactos em que o merece.
Assim, para esclarecimento do candidato e dos leitores do «Tempo Medicina» informa-se:
— O dr. Nuno Morujão, na qualidade de médico, eventualmente apoia a minha reeleição. Se assim for só me resta agradecer e sentir-me honrado. O apoio de qualquer médico merece o meu agradecimento e honra.
— Opus-me de forma pública e continuo a opor-me aos métodos electrónicos de controlo de assiduidade quando aplicados à Medicina, já que são estúpidos porque reduzem a produtividade e perturbam as hierarquias técnicas estabelecidas.
— Contestei a decisão do dr. Morujão quando foi tomada.
Infelizmente, na altura, o dr. Miguel Leão em vez de ser solidário com o seu bastonário preferiu enredar-se numa acção mediática de ataque pessoal ao dr. Nuno Morujão, que lhe valeu ter sido publicamente desautorizado pelos médicos do Norte reunidos em assembleia regional que ele próprio tinha convocado.
O recuo do dr. Leão e a desunião dos médicos foi motivo de gáudio para todos os administradores e seguramente do agrado do sr. ministro da Saúde.
— Estou certo de que se aqueles que hoje afirmam querer unir os médicos não tivessem estado envolvidos durante os últimos três anos em acções sistemáticas para os desunir, estes seriam mais fortes.
Igualmente muito teriam contribuído para tal desiderato palavras de crítica ao ministro da Saúde por parte do agora candidato. Todos nós hoje só conseguimos recordar o seu ensurdecedor silêncio cúmplice.
— Em 1989, enquanto membro fundador do Sindicato Independente dos Médicos, participei activamente na luta contra a ministra Leonor Beleza. Nas negociações e combates políticos tive como adversário o dr. Albino Aroso, então secretário de Estado da Saúde e figura prestigiada da Medicina portuguesa.
Como antigo adversário, mas também como médico insigne, é para mim uma honra contar hoje com o seu apoio explícito.
— Na época difícil que então se viveu nunca vi em qualquer luta em defesa dos médicos o dr. Miguel Leão. Pelo contrário, em pleno período mais agudo das lutas pela liberdade dos médicos, em Dezembro de 89, recordo o dr. Leão como fomentador de uma lista que derrubou o então Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos.
— Começo agora, após contactar com as metodologias que o candidato traz para a peleja eleitoral que se aproxima, a perceber o sentido profundo de um artigo do médico do Norte, dr. Artur Osório, publicado no Jornal de Notícias, em que avaliava as qualidades morais necessárias para se ser candidato ao cargo de presidente da Ordem dos Médicos…
*Bastonário da Ordem dos Médicos e candidato à reeleição

MIGUEL LEÃO NÃO GOSTOU DO ARTIGO DE OPINIÃO DE NUNO MORUJÃO

Miguel Leão responde a Nuno Morujão . In Tempo Medicina - 1º Caderno - 22/10/2007 . Artigo do Dr. Miguel Leão*
Agradecimento aos ataques do dr. Nuno Morujão, presidente do conselho de administração da ULS de Matosinhos, pioneiro da introdução da marcação do ponto por impressão digital e conselheiro do dr. Pedro Nunes.
1 — Em artigo publicado neste jornal, o dr. Nuno Morujão assina (sublinho, assina) um texto em que me dedica um conjunto de críticas que são, sumariamente, as seguintes:
— Que sou responsável pelo afastamento dos médicos da Ordem dos Médicos.
É falso. É falso como se comprova ao longo dos sucessivos actos eleitorais para a Ordem dos Médicos, independentemente dos candidatos, do tipo de candidaturas e das regiões. Infelizmente, o número de médicos votantes ronda sempre um terço dos eleitores. Tal resulta de vários factores, mas dos não menos importantes será a existência de médicos que quando se apanham em lugares de administração (sempre nomeados, como é óbvio) se esquecem rapidamente do seu passado (até como dirigentes sindicais) para se empenharem em apoucar, denegrir e ultrajar a dignidade de outros médicos.
— Que não respeito as decisões democráticas do Conselho Nacional Executivo.
É falso. Durante os seis anos a que presidi ao Conselho Regional do Norte nunca desrespeitei uma decisão do Conselho Nacional Executivo, como se comprova pelas respectivas actas.
Nos últimos três anos, como presidente da mesa da Assembleia Regional do Norte, também não o fiz, e por duas razões: porque, nos termos do Estatuto da Ordem dos Médicos, o Conselho Nacional Executivo não detém poderes de fiscalização ou tutela sobre as assembleias regionais e porque nenhuma assembleia regional tomou deliberações contrárias às adoptadas pelo Conselho Nacional Executivo.
Desafio, pois, o dr. Nuno Morujão a provar o contrário.
— Que defendo um Conselho Nacional Executivo homogéneo.
É verdade e é normal. Por isso existem eleições em que surgem projectos alternativos, sujeitos a escolha democrática. Estou habituado a disputar eleições e aceito ser vencido. Admito que o dr. Nuno Morujão esteja afastado desta realidade já que os «jobs» que ocupa há vários anos são de nomeação.
— Que difamei vários colegas.
É falso. E porque é falso, desafio o dr. Nuno Morujão a identificar os casos em que resultou provado o que afirma.
2 — O meu agradecimento ao dr. Nuno Morujão, presidente do conselho de administração da ULS de Matosinhos e conselheiro do dr. Pedro Nunes (integra o Núcleo de Reflexão-Administração e Gestão Hospitalar, conforme se pode ler na página 27 do manifesto de candidatura do dr. Pedro Nunes a presidente da Ordem, apresentado em 2004), decorre do facto de ser natural estarmos em campos opostos no que respeita à defesa dos médicos.
Quem consegue merecer a confiança sucessiva dos ministros Luís Filipe Pereira e Correia de Campos, quem foi o principal impulsionador da marcação do ponto por impressão digital, quem apoia uma candidatura na Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos patrocinada por manifestos apoiantes da ministra Leonor Beleza não pode identificar-se com a minha candidatura, para «Defender e unir os médicos».
Por isso, o meu sincero obrigado, dr. Nuno Morujão.
*Candidato à presidência da Ordem dos Médicos