sábado, 7 de julho de 2007

ORDEM DOS MÉDICOS - Despesas Ilegais?

In Diário de Notícias - 6/07/2007

Despesas ilegais abrem guerra na Ordem dos Médicos
Rute Araújo
Natacha Cardoso
O Conselho Nacional Executivo, o órgão máximo da Ordem dos Médicos (OM), decidiu avançar com uma queixa-crime junto do Ministério Público (MP) contra Miguel Leão, candidato a bastonário daquele organismo nas próximas eleições.A decisão foi votada favoravelmente pelos dez médicos que compõem a estrutura, à excepção de um, do Conselho Regional do Norte, de onde é originário aquele clínico. E promete abrir uma guerra dentro da instituição. Em causa está a utilização indevida de dinheiros da OM para deslocações pessoais pelo País, acima dos 20 mil euros nos últimos meses, no âmbito da candidatura a bastonário.Ao que o DN apurou, desde Abril que a informação circulava nos corredores do organismo. E acabou por ser levada à reunião do Conselho Nacional Executivo na passada semana, depois de reunidas provas a apresentar à justiça. O Conselho Nacional Executivo integra dez médicos - três representantes de cada um dos conselhos regionais (Norte, Centro e Sul), além dos bastonário. O resultado foi esmagador: nove contra um. Todos os membros votaram a favor da medida, incluindo dois médicos do Norte.O assunto está a causar desconforto dentro do organismo e vários dirigentes, incluindo o próprio bastonário, Pedro Nunes, recusaram prestar declarações sobre a queixa-crime. Mas o DN sabe que o valor em causa ascende aos milhares de euros e vai mesmo ser investigado pela justiça.A denúncia aos tribunais surge num momento em que se avizinham eleições para o cargo de bastonário, numa eleição marcada para Dezembro deste ano. Além de Miguel Leão, estão também na corrida Carlos Silva Santos, médico lisboeta especialista em saúde pública e o actual bastonário, Pedro Nunes, que se recandidata ao segundo mandato à frente do organismo.Miguel Leão, neuropediatra do hospital do Hospital de S. João, foi o primeiro dos três candidatos a bastonário a anunciar a sua intenção de entrar na disputa para representante da classe, ainda em Março. Desde então, a Ordem terá detectado valores de milhares em deslocações ao centro e sul do País. Alegadamente, o médico utilizou carro e motorista pessoal para vários encontros e eventos no âmbito da sua campanha, com as facturas a serem descontadas directamente na conta da Ordem.Além disso, o clínico é acusado de usar dispensas ao trabalho no Hospital de S. João, no Porto, alegando serviço na Ordem. Mas, à luz da lei, essa situação é irregular, já que Miguel Leão não integra actualmente os órgãos dirigentes do organismo, sendo apenas presidente da Assembleia Geral da Secção Regional do Norte.Contactado pelo DN, o médico do Porto afirma já ter tido conhecimento da queixa-crime, mas escusa-se a comentar a acusação de que é alvo. Miguel Leão garante que "nunca foi ouvido" pelas instâncias da Ordem sobre o uso indevido de dinheiro e não recebeu, até ao momento nenhuma notificação oficial nem da OM nem do MP."Não tenho nada a dizer. Só vou agir em função do teor da notificação. E como não sei o seu conteúdo exacto ainda não sei ao certo como reagir e que posição tomar. Não posso comentar uma coisa que apenas 'ouvi dizer', um boato", afirma o médico. Questionado sobre a acusação em concreto, de uso indevido de dinheiro, mantém o silêncio, reafirmando não saber ao certo o conteúdo das acusações de que é alvo. Um tom esquivo que é também usado para responder à pergunta sobre o impacto desta acusação nas eleições: "Não vou entrar em suposições nem especulações."