quinta-feira, 26 de julho de 2007

UMA "LUFADA DE AR FRESCO" PARA A SECÇÃO REGIONAL DO NORTE DA ORDEM DOS MÉDICOS?

Texto publicado em Tempo Medicina on line em 26/07/2007
Luís Monteiro apresenta manifesto de candidatura ao CRN
Profissionalização da Ordem para «supervisionar a formação» A necessidade de se conseguir mais «justiça social entre os médicos», em termos de prontidão no acesso, e de criar uma entidade profissionalizada para regular a formação, são dois desafios constantes do manifesto de candidatura de Luís Monteiro à presidência da CRN da OM, apresentado no Porto.
Mais «rigor na obtenção de títulos», face à «exigência crescente» de controlo da idoneidade formativa dos médicos, foi uma das propostas lançadas por Luís Monteiro na apresentação do manifesto da sua candidatura à presidência do Conselho Regional do Norte (CRN) da Ordem dos Médicos (OM), que teve lugar no dia 24 de Julho, na Casa do Médico, no Porto.
Defendendo um certo «pragmatismo de actuação» nesta matéria, Luís Monteiro, cirurgião geral do Hospital da Prelada (Porto), chegou mesmo a sugerir a «profissionalização de uma secção da Ordem» que «supervisione a qualidade formativa» nos serviços públicos e privados.
«A formação profissional terá que ser especialmente exigente, tornando as novas gerações de médicos catalisadoras de progresso, saber e sentido de responsabilidade profissional», salientou.
Preferindo não fazer críticas aos últimos anos de gestão da Secção Regional do Norte (SRN), esta candidatura - a primeira que se propõe enfrentar a lista liderada por José Pedro Moreira da Silva no próximo acto eleitoral - apresentou o «profissionalismo médico» como principal linha de força: «É necessário garantir melhor qualidade de cuidados, respeitar a autonomia e informar correctamente o doente».
Para Luís Monteiro, é ainda importante haver entre os médicos «uma forma de justiça social», quer na utilização dos recursos, que «são escassos», quer na «prontidão no acesso».
Relação de confiança
Na apresentação do manifesto, que reuniu mais de meia centena de médicos, apoiantes e membros da lista, entre os quais se encontravam Albino Aroso (mandatário), Nuno Grande, Artur Osório, Rui Guimarães (presidente do Conselho Nacional dos Médicos Internos) e Carlos Santos (SIM/Norte), entre outros, Luís Monteiro defendeu que a Ordem tem de estar «acima dos poderes instalados», ou seja, «acima dos poderes políticos e económicos», focando na relação médico/doente a sua «preocupação constante». «Só assim estará criada uma ainda maior relação de confiança com a população», disse.
O manifesto considera que a Ordem deve contribuir com «propostas credíveis para a manutenção e sustentabilidade do SNS», o qual «deve ser universal, solidário e concorrencial», colocando sempre o doente «no centro do sistema».
Apoio pessoal a Pedro Nunes
A ideia de apresentar uma candidatura oponente à gestão actual da SRN partiu de «uma série de colegas e amigos», segundo contou ao «Tempo Medicina» Luís Monteiro. «Pensaram na situação actual da Ordem dos Médicos e acharam que era possível criar um projecto novo, consubstanciado num manifesto, que representa uma situação nova para a Ordem com alguma motivação para os colegas».
A candidatura «não foi feita para apoiar candidatos a bastonário», mas Luís Monteiro já tem posição formada sobre esta matéria. «Pessoalmente, tenho posição favorável à candidatura do dr. Pedro Nunes, porque me identifico com o seu programa, com a sua maneira de ser e com a sua postura», referiu, reforçando que «isto é uma opinião pessoal, porque tenho na lista pessoas que apoiam os vários candidatos».
Questionado acerca da existência de possíveis «rupturas» com a gestão actual da SRN, o cirurgião respondeu: «Não há ruptura, apenas estamos a apresentar aquilo que pensamos para a Ordem dos Médicos».
Sem «críticas estéreis»
«O dr. Luís Monteiro não vai enveredar pelas críticas estéreis que vemos por aí, de políticos e politiqueiros». A afirmação é do mandatário da candidatura, Albino Aroso, que defende a necessidade de se avançar para um «diálogo concertado» com o Ministério da Saúde, representantes dos hospitais e outras associações. Considerando a transformação «rapidíssima» que a sociedade europeia está a atravessar, o antigo secretário de Estado da Saúde fez votos para que «esta direcção da OM» consiga encontrar, no contexto nacional, uma forma de progredir em muitas áreas, reconhecendo que «temos muitos aspectos na nossa Ordem que são extremamente discutíveis». A proposta do mandatário de Luís Monteiro é, pois, dialogar «junto de quem pode alterar o estado de coisas» a nível central, «à semelhança de outros tempos, em que havia mais relações com o Governo».
Programa é apresentado em Setembro
O programa do que será a candidatura de Luís Monteiro à presidência do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos ser apresentado em finais de Setembro. «Agora só quisemos dizer aos médicos que temos mais uma candidatura, um manifesto, o que pensamos sobre os problemas e que vamos apresentar as nossas propostas», informou o cirurgião. Embora ainda não esteja completa, a lista que acompanha o manifesto de Luís Monteiro integra como presidentes dos restantes órgãos, além de Vasco Miranda (Porto), que surge como vice-presidente do CRN, Ângelo Azenha (Mesa da Assembleia Geral), Serafim Guimarães (Conselho Fiscal) e Ana Aroso, actual presidente do Conselho Disciplinar, mas que entretanto pediu a demissão daquele órgão. Para os conselhos distritais apresentam-se como candidatos à presidência Falcão dos Reis (Porto), Pedro Koch (Braga), Joana Moura (Viana do Castelo) e Eufémia Ribeiro (Vila Real).
«Tem havido alguma conflitualidade»
Em relação ao rumo que a actual direcção tem dado à SRN, Luís Monteiro, ao ser questionado, arriscou apenas uma reflexão: «Penso que tem havido alguma conflitualidade entre o Conselho Regional do Norte e o Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos, e isso, do meu ponto de vista, acabou por fragilizar um pouco os médicos do Norte».
Luís Monteiro confirma que a candidatura está «muito ligada à formação», sobretudo à possibilidade de haver formação em gestão.
«São ideias completamente diferentes que não têm nada a ver com outras candidaturas», reforçou, não assumindo uma clara oposição aos órgãos actuais.
«Encaramos esta candidatura apenas como a nossa proposta», sublinhou.
«Mais para os médicos, melhor para os doentes»
O «espírito de dignidade e de rigor» que a equipa de Luís Monteiro «está a imprimir» desde que pensou candidatar-se é uma das razões que levaram Rui Guimarães, presidente do Conselho Nacional dos Médicos Internos, a apoiar esta candidatura, como declarou o anestesista ao «Tempo Medicina». «Começa-se como se deve começar, ou seja, um movimento de médicos que se vão juntando e que propõem uma alternativa: colocar os médicos do Norte num patamar de excelência, que é onde devem estar».
Para este responsável, estamos perante uma candidatura de médicos que «não têm outros projectos pessoais» que não sejam «dignificar os médicos, conseguir mais para os médicos e melhor para os doentes».
O facto de a lista integrar pessoas novas, com média etária próxima da dos internos, «o que mostra também renovação», pesou igualmente na decisão do anestesista: «Acho que a Ordem precisa, há muito tempo, de renovação, e também de pessoas que não estão tradicionalmente ligadas à instituição, ou seja, precisa de novas pessoas».
«Acho que posso fazer melhor»
Outra ideia central do manifesto de Luís Monteiro é «centrar os cuidados no doente» e que «a defesa do doente corresponde à defesa do médico» e da sua dignidade.
«Foi nisso que nos baseámos para avançar com esta candidatura», explicou.
O cirurgião admite, no entanto, que pode «fazer melhor, ter uma atitude também de defesa da própria classe»».
A defesa da autonomia técnica para o exercício profissional consta também do manifesto, que aponta ainda para uma Ordem dos Médicos como «entidade de referência» de todos os portugueses na «procura da verdade face à inevitabilidade do erro» e no «combate à negligência profissional.