quarta-feira, 18 de novembro de 2009

DIA MUNDIAL DO ANTIBIÓTICO VS PREVENÇÃO DA INFECÇÃO HOSPITALAR

O Diário de Notícias publicou no passado dia 16, sob o título “Hospitais travam infecção à entrada com testes a doentes”, uma notícia que não posso deixar de comentar.

Há cerca de três anos, um determinado Hospital (a que chamarei A), no qual se sabia existir um número significativo do doentes infectados por um microrganismo multirresistente, decidiu transferir para o Hospital Pedro Hispano (HPH) um doente infectado com esse agente.
Motivo da transferência: - o doente residia na área de influência do HPH. Tinha sido admitido no Hospital A em contexto de urgência, por orientação do CODU. Recuperara da sua situação crítica numa UCI e estava no internamento, numa Unidade de Cuidados Intermédios.
Não se tratava de transferir por necessidade de cuidados mais diferenciados. Os cuidados a prestar seriam os mesmos.
O Director Clínico do HPH pronunciou-se contra essa transferência, invocando o facto de se tratar de doente infectado por “microorganismo problema”, que estava a ser adequadamente tratado no Hospital A, em isolamento de contacto, não carecendo de tratamentos mais diferenciados do que os disponíveis nesse hospital.
Fazia sentido que aí completasse o tratamento até à alta.
Ou, pelo menos, até que fosse comprovado laboratorialmente que já não estava infectado.
Alertou, nomeadamente, para a importância do entendimento e articulação entre hospitais no contexto de uma política hospitalar de prevenção da infecção nosocomial, bem como de minimização do risco de disseminação da mesma, muito especialmente quando estavam em causa “microorganismos problema”.
Dentro de um espírito da melhor colaboração, admitindo que se pudesse colocar alguma dificuldade por falta de vagas, avançou à partida com a disponibilidade para receber outro ou outros doentes, mesmo não residentes na área do HPH, se o problema de falta de camas disponíveis existisse.
Nesse dia o doente não foi transferido. A oferta de internamento de outro ou outros doentes não infectados também não foi aceite. Nesse mesmo dia, o Hospital A queixou-se à ARS da postura do HPH.
Pouco mais de 24 horas depois, a ARS deu ordem ao Director Clínico do HPH para aceitar o doente em causa. A situação clínica do doente continuava estável, mantendo-se infectado.
Já nessa altura o HPH dispunha de um protocolo, preparado sob a égide da respectiva CCI, para situações de transferência de doentes doutros hospitais e lares...
O DN de 16/11/2009 transcreve diversas opiniões sobre esta problemática.
Como se evidencia, o HPH já há alguns anos equacionou o problema. Elaborou e implementou um protocolo.
Também já há alguns anos o HPH publica regularmente a flora microbiana da instituição, respectiva prevalência e sensibilidade aos antibióticos.
Facilmente se compreendem as vantagens daí resultantes.
Não podemos deixar de nos regozijarmos por ver reconhecida a óbvia correcção da conduta que já há tanto tempo vem sendo adoptada no HPH.
Por tudo o exposto, permitam-me que faça um apelo: - defina-se também uma política para a transferência inter-hospitais dos doentes que, à partida, se sabe estarem infectados com “microorganismos problema” nos hospitais de origem.
Quanto mais não seja porque o simples facto de se ser transportado de uma instituição para outra implica o uso de diversos recursos materiais (roupas, equipamentos, transporte), a passagem e/ou permanência em diversas áreas dos hospitais, a prestação de cuidados por diversos profissionais em condições nem sempre as mais favoráveis (que dizer do indicado “isolamento de contacto”?) …
Afinal, só é preciso ter sensibilidade e bom senso…