sexta-feira, 15 de maio de 2009

MERITOCRACIA: - PRECISA-SE !

Estando atento aos diversos acontecimentos da nossa sociedade, política e economia, parece-me, infelizmente, muito actual e presente o discurso de Nicolau Maquiavel de alerta ao povo para os perigos da “tirania”.
Ele escreveu na sua obra mais mediática, "O Príncipe",
"...porém, a maneira como se vive está tão afastada da maneira como se devia viver, que aquele que deixa aquilo que se faz por aquilo que deveria fazer-se aprende mais a perder-se que a salvar-se, porque um homem que queira em tudo professar o bem arruína-se entre tantos que não são bons".
Não será este o maior problema da nossa sociedade? Uma total inversão dos verdadeiros valores!
Bom, apesar deste contexto eu sonho com uma realidade de ética no trabalho.
O período anterior à presente crise falava-nos de um mundo de trabalho pragmático, objectivo, técnico e privado de moral, como pudemos constatar.
Agora, julgo que se começa a sentir a necessidade de novos comportamentos, mais éticos, e sobretudo no ambiente de trabalho.
É tempo de entrarmos na era da humanização, no primado das pessoas, em que é privilegiado o desenvolvimento da identidade pessoal nas várias experiências profissionais e empresariais.
Por isso, nunca como agora, foi tão importante a atenção às relações psicológicas interpessoais, à gestão de conflitos, às técnicas de motivação e à tentativa de fortalecimento das personalidades dos colaboradores.
Estará o(a) estimado(a) leitor(a) a pensar, mas primeiro temos que salvar a empresa, ter um balanço robusto e equilibrado, que permita a competitividade a médio prazo.
E eu estou plenamente de acordo com essa prioridade, mas simplesmente acredito que é insuficiente se não houver uma maior consciência ética.
Não podemos ver o problema como mera sobrevivência, mas também no papel que uma empresa poderá ter na expressão de talentos individuais, na realização de sonhos, alimentando motivações, força, energia e entusiasmo que poderá servir de inspiração a comportamentos éticos e tornar-se num "projecto maior", onde todos são elementos activos, onde podem crescer e desenvolver continuamente as capacidades pessoais e organizacionais.
E estas mudanças têm que partir do topo.
Dos gestores, dando o exemplo e incentivando uma nova cultura empresarial, que deverá ser muita mais aberta, flexível e exigente.
Para isso é fundamental que se implemente uma gestão com base na meritocracia, assente no mérito das pessoas, onde as posições hierárquicas são conquistadas com base no merecimento e com uma predominância de valores associados à educação, formação e competência.
Este desafio de que falamos é enorme, pois quase implica uma conversão do "coração do Homem", mas é necessário para evoluirmos e nos tornarmos uma sociedade e uma geração em que os nossos filhos e os nossos netos se orgulhem.
E nunca é tarde, vejamos o recente caso de Susan Boyle, de 47 anos, desempregada, que emocionou o mundo com a sua humildade no programa "Britain's got talent".
Recebida com cinismo, risos e desconfiança, pela sua modesta aparência, ela exaltou o público e calou o júri quando começou sua interpretação de ‘I dreamed a dream', do musical "Les miserables".
É um exemplo claro de como a nossa sociedade faz juízos de valor antes do tempo.
E isto não acontece apenas em programas de entretenimento, é usual entre grupos, em organizações, nas empresas, na política. faz parte das nossas vidas.
Mas tem que ser erradicado.
Já reparou que o trabalho nas empresas, de um modo geral, tornou-se num lugar agressivo, mau, esgotante, fonte de angústias e depressões?
O colega é sempre um inimigo potencial, a comunicação é falseada, não é autêntica e para se fazer carreira é de algum modo necessário boicotar a dos outros colegas.
Ora, há muito tempo que o trabalho já não é fonte de auto-realização, de expressão das capacidades individuais, que não é sustentado por motivações pessoais.
Para inverter esta situação é necessário que no topo das empresas se comece também a dar importância a estes temas e definir como uma das principais prioridades a meritocracia.
In Diário Económico, 22/04/2009
Bruno Valverde Cota, Doutorado em Gestão de empresas e especialista em assuntos de Marketing e Comunicação

quinta-feira, 14 de maio de 2009

O ESSENCIAL FAZ A VIDA VALER A PENA

Contei os meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Sinto-me como aquela menina que ganhou uma tigela de cerejas.
As primeiras, ela chupou-as displicente, mas percebendo que faltam poucas, até rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabarolices.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando os seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projectos megalómanos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.
Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milénio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos factos a limpo".
Detesto fazer acareação de desafectos que lutaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou:
"as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos".
O meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Quero a essência, a minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na tigela, quero viver ao lado de gente humana, muito humana;
Que sabe rir dos seus tropeções, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora,
Não foge da sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do Bem.
Caminhar perto de coisas e pessoas verdadeiras, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.
O essencial faz a vida valer a pena.
Ruben Alves